Resultados do Transplante Renal ABO Incompatível: A Experiência de um Centro
Palavras-chave:
Incompatibilidade no Sistema de Grupos Sanguíneos ABO, Transplante de Rim, Doadores Vivos, Troca Plasmática, Imunoadsorção Terapêutica, Terapia de ImunossupressãoResumo
Introdução: O transplante renal (TR) é o tratamento de eleição dos doentes com doença renal terminal. A escassez de órgãos continua a ser uma limitação importante, dado o número crescente de doentes a aguardar transplante, levando à adoção de diferentes estratégias para aumentar o número de doadores, tal como o TR ABO incompatível (ABOi) de doador vivo. Neste estudo unicêntrico, avaliamos retrospectivamente todos os pares doador/receptor propostos para TR ABOi desde a implementação do programa de transplante no nosso hospital em 2014. Métodos: Entre novembro de 2014 e março de 2022, foram realizados 609 TR de doador cadáver e 223 TR de doador vivo. Setenta e um pares doador/receptor foram propostos para TR ABOi e avaliados para grupo ABO/Rh, teste de Coombs, genotipagem de alta resolução de antígeno leucocitário humano (HLA) tipo I (A, B, C) e II (DR), titulação de isoaglutininas receptor/doador e anticorpos HLA. Receptores com títulos de isoaglutininas da classe G (IgG) e/ou M (IgM) > 1:512 e/ou aloanticorpos HLA doador específicos (DSAs) foram excluídos do programa de transplante ABOi. A remoção das isoaglutininas foi realizada através de técnicas de troca plasmática terapêutica (TPT) e/ou imunoadsorção. Os doentes transplantados foram avaliados quanto a dados demográficos, diagnóstico, relação com o doador, sessões de remoção de anticorpos, títulos de isoaglutininas pré- e pós-TR, viabilidade do enxerto, suporte transfusional, complicações significativas e sobrevida global do doente. Resultados: Dezoito doentes (14 homens e 4 mulheres) foram transplantados com enxerto ABOi dos 71 pares ABOi estudados. A mediana dos títulos de isoaglutininas IgG e IgM foram 1:32 (min. 1:2, máx. 1:256) e 1:8 (min. 1:2, máx. 1:32), respetivamente. Quinze pacientes (83.3%) foram submetidos a sessões de TPT e/ou imunoadsorção pré-TR para remoção de isoaglutininas (média 2.4 ± 1.8 sessões por doente). Sete doentes (36.8%) foram submetidos a TPT pós-TR (média 1.9 ± 3.2 sessões por doente). Não foi observada rejeição aguda mediada por anticorpos e a sobrevida global do enxerto foi de 100% num período de seguimento entre 3 e 92 meses (47.6 ± 25.2 meses). Todos os doentes estavam livres de diálise com níveis estáveis de creatinina sérica (mediana 1.4 mg/dL) em 47.6 ± 25.2 meses de seguimento. Conclusão: Estes resultados confirmam que o TR ABOi é um tratamento viável para doentes com doença renal terminal, expandindo assim o número de doadores vivos e reduzindo o tempo de espera para transplante.
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